Quando dos horizontes a cansada
contemplação aos poucos se dilui,
penso alcançar numa remota estrada
não o que sou e nem o que já fui,
mas a visão casta, incontaminada,
da paz que abriga, que as paredes rui
do desespero, e que, maravilhada,
a cada instante do silencio flui.
Não sei que céu além do céu me acena,
nem que colina além de outra colina...
Contemplo, apenas; da contemplação,
nasce a estranha emoção que me asserena:
pressentimento de uma luz divina
que não é nem do céu e nem do chão.
Alphonsus de Guimaraens Filho
In: Só a noite é que amanhece
Seja bem-vindo. Hoje é
20 de jun. de 2011
15 de jun. de 2011
Terra Perdida
Abandonado, assim, dentro da vida...
Sózinho, sem destino, sem legenda...
Ninguém!... E uma ansiedade mal-contida
de alguma coisa antiga que me prenda.
E a dor de relembrar... Tudo distante...
Recordações que chegam em pedaços
Minha memória, envelhecida, errante,
põe-se a andar para trás, sobre meus passos.
Erra, longe, acordando horas felizes...
E a minh'alma de novo se descerra
naquele amor que ao chão prende as raízes,
o amor do primitivo pela terra!
Minha terra perdida... Lembro-a... E lembro
os fundos céus de cinza e as tardes calmas,
naqueles dias mortos de Novembro,
mês de papoulas novas e das almas.
Novembro... Mês de tumbas... Romarias
de finados e quietações de cova.
E em contraste essas claras alegrias
de terra em flor e Primavera nova.
Ah! Primavera... Evocas os extensos
de verdes e os chorões ao pé da Igreja,
com os esmolantes braços velhos pensos,
pedindo ao chão bendito que os proteja.
Recordo tanto... A Igreja, entre as acácias,
na elegância das suas linhas vivas,
desde o entalhe custoso das rosáceas,
dos ângulos agudos das ogivas.
E aquelas noites pelo céu deserto...
Que lindas noites... (Pudesse ainda eu vê-las)
E a lua, como um lírio em fogo aberto,
a derramar o polen das estrelas...
E as matinadas de verão... E os vagos
de sombra! ... (Ó sombra, que mistério escondes,
para a um tempo fazer morrer os lagos
e humanizar a larga paz das frondes?)
Lembro finados, outra vez...E escuto
as orações de um rito. Gemem, longe,
mágoas de sino. O ambiente veste luto
e ouço um réquiem entoando a voz de um monge.
Passam místicos vultos... De Profundis...
Doridos sons de funerários salmos...
E após vens tu, coveiro, que me infundes
o religioso horror dos sete-palmos...
Felipe De Oliveira
(Felipe D"Oliveira)
in Vida Extinta
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Felipe Daudt de Oliveira
13 de jun. de 2011
SONHOS NO CREPÚSCULO
Sonhos no crepúsculo,
Apenas sonhos encerrando o dia,
Retornando-o com tal desfecho,
Aos tons cinza, escurecidos,
Às coisas fundas e longínquas
Do território dos sonhos.
Sonhos, apenas sonhos no crepúsculo,
Apenas as rotas imagens lembradas
Dos tempos idos, quando o ocaso de cada dia
Escrevia em prantos as perdas da afeição.
Lágrimas e perdas e sonhos desfeitos
Talvez acolham teu coração
ao anoitecer.
Carl Sandburg
Tradução de Fernando Campanella
10 de jun. de 2011
VISITAS
Bom-dia Tristeza!
Posso entrar?
Hoje vim com a Saudade
para te visitar...
Já que a Alegria viajou
depois que o Amor morreu,
viemos te visitar
querida amiga...
Visitar-me diz Tristeza,
não me diga...ora veja...
Enganaram-se com certeza,
Pois também estou de partida.
Vou morar com a Esperança
que ainda é minha amiga.
Zoraida H.Guimarães
In Na Passarela do Tempo
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Zoraida H.Guimarães
RENÚNCIA
Renunciar. Todo o bem que a vida trouxe,
toda a expressão do humano sofrimento.
A gente esquece assim como se fosse
um vôo de andorinha em céu nevoento.
Anoiteceu de súbito. Acabou-se
tudo... A miragem do deslumbramento...
Se a vida que rolou no esquecimento
era doce, a saudade inda é mais doce.
Sofre de ânimo forte, alma intranqüila!
Resume na lembrança de um momento
teu amor. Olha a noite: ele cintila.
Que o grande amor, quando a renúncia o invade
fica mais puro porque é pensamento,
fica muito maior porque é saudade.
Olegário Mariano
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Olegário Mariano
"ELEGIA"
As árvores em flor, todas curvadas,
Enfeitarão o chão que vais pisar.
E a passarada cantará contente
Bem lindos cantos só em teu louvor.
A natureza se fará toda carinho
Para te receber, meu grande amor.
Virás de tarde, numa tarde linda –
Tarde aromal de primavera santa.
Virás na hora em que o sino ao longe
Anuncia tristonho o fim do dia.
Eu estarei saudoso à tua espera
E me perguntarás, pasma, sorrindo:
Como eu pude adivinhar quando chegavas,
Se era surpresa, se de nada me avisaste?
Ah, meu amor! Foi o vento que trouxe o teu perfume
E foi esta inquietação, esta mansa alegria
Que tomou meu solitário coração ...
-FREDERICO AUGUSTO SCHMIDT-
in (‘Poesias Completas’)
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FREDERICO AUGUSTO SCHMIDT
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